«A economia
significa o poder de repelir o supérfluo no presente, com o fim de assegurar um
bem futuro e sobre este aspecto representa o domínio da razão sobre o instinto
animal.» ― Thomas W. Atkinson
Apesar dos elogios externos ao Executivo, não se pode
ignorar que Portugal continua sob pressão dos investidores e das autoridades monetárias
europeias, sem esquecer a hipótese de um contágio por parte de algumas
economias europeias, como a espanhola e a italiana.
O resultado do esforço de rigor orçamental anunciado não
tem impressionado o suficiente os nossos credores e os investidores
internacionais, o Executivo tem de acelerar todas as outras reformas previstas
no acordo com a “troika”, contando com a maioria parlamentar de que dispõe.
O problema é o tipo de reformas. Está na hora de aplicar
os cortes orçamentais no Serviço Nacional de Saúde, na Educação, na Justiça, na
Defesa e Administração Interna, enfim em todas as áreas. Paralelamente, o Parlamento
terá de aprovar a lei da estabilidade orçamental.
Acontece, porém, que tais reformas e cortes orçamentais
podem não ser suficientes, pois a economia portuguesa parece ter entrado numa
espiral de degradação, presa aos excessos da dívida contraída por famílias e
empresas, demasiadamente concentrados no sistema financeiro. Sem a reforma do
sistema financeiro europeu e português que permita o financiamento da economia,
principalmente das empresas, é improvável que a economia consiga sair daquela
espiral de perda.
Acresce que o sistema da Segurança Social tornou-se
insustentável, acumulando mensalmente prejuízos de milhões de euros, que
penalizam, obviamente, o equilíbrio orçamental e podem deitar a perder as
ambiciosas metas do deficit.
Um dos principais problemas prende-se com o facto de as
contribuições não cobrirem as despesas, com pensões e subsídios, já que além da
redução do valor dos descontos para a Segurança Social assiste-se a um
crescimento acentuado das despesas, nomeadamente com subsídios de desemprego.
Naturalmente como há menos massa salarial (pela diminuição do valor dos
salários e do número dos postos de trabalho) há menos descontos para a
Segurança Social. Paralelamente, apesar da exorbitante carga fiscal, o Estado tem
arrecadado menos dinheiro com impostos: ao gastar-se menos dinheiro em compras
há menos cobrança de IVA, etc. Enfim, nada que qualquer “dona de casa” não
saiba.
O tempo esgota-se, centenas de milhares de portugueses no
desemprego desesperam por um crescimento sustentado e uma economia pujante,
milhares de empresários e empreendedores anseiam por um sistema financeiro
capaz de apoiar os investimentos. O País agonia por um Governo capaz de
aguentar a pressão dos mercados e dos credores e de se superar em soluções que
vão além dos habituais aumentos de impostos e cortes orçamentais.