Esta ocidental praia, – lusitana?
«A estratégia como a aventura não existem sem estrategos nem
aventureiros. Mas, como ninguém consegue permanecer toda a vida a cavalgar o
sonho da aventura, nem a acertar, sem nunca errar, na lógica aleatória de ver
as coisas da estratégia, há que admitir, de uma vez por todas, que o repouso do
aventureiro ou a mudança de estratego constituem um bem em si mesmo.» ― Manuel Pedroso Marques (Jornal de
Negócios, 13-7-2005)
Parece-me hoje ainda mais adequado iniciar este texto
pelo mesmo título do que escrevi há cerca de um ano: “De Espanha nem bom vento …”.
Por estes dias Espanha fervilha não só pelas
manifestações contra a política e o Orçamento de Estado do Governo de Mariano
Rajoy, mas também porque a Catalunha foi palco no seu dia nacional (11 de
Setembro) de uma gigantesca manifestação independentista, acompanhada de sinais
políticos onde se reclama a independência. Ainda ontem, no decurso do clássico
do futebolístico Barcelona–Real Madrid, os adeptos catalães gritaram
sincopadamente «in-inde-independència» e exibiram centenas de bandeiras
independentistas, as “estelades”.
A imprensa espanhola dá mesmo conta que o Governo espanhol
pediu à Comissão Europeia que tenha uma só voz perante a deriva independentista
da Catalunha e, em concreto, que interprete os Tratados quanto à possibilidade
de um território (espanhol) que se declare unilateralmente independente poder
integrar a União Europeia.
Quer pela via da declaração unilateral da
independência da Catalunha, ainda que através de um referendo, quer pela via negocial
de instauração de um Estado federalista no actual território espanhol, o risco
de uma fractura do Reino de Espanha é consideravelmente alto.
Por razões históricas e geoestratégicas bem
conhecidas, as relações com Espanha, quer políticas, quer económicas, têm um
peso, como com nenhum outro país, nos destinos de Portugal.
Daí que estes sinais devam ser atentamente lidos
pelos portugueses, nomeadamente na definição da estratégia de defesa nacional nos
vários cenários de configuração da geopolítica peninsular.
O que mais
convém aos interesses nacionais em caso de alteração do mapa geopolítico da
península?
Como escreveu Paulo Rangel
no jornal “Público” da passada terça-feira, «Portugal tem evidentemente de
formular uma posição e uma estratégia de resposta, alicerçadas em fundamentos
de legitimidade e no apuramento do que seja o interesse e a conveniência nacionais.
Além disso, tem de traçar um roteiro para sustentar a sua posição, enquanto
vizinho privilegiado e potencialmente afectado, nos fóruns europeus.»
No caso de desintegração do Reino de Espanha, o
futuro político da Península Ibérica pode passar por diversas vicissitudes para
as quais Portugal tem de definir, antecipada e estrategicamente, quais os seus
interesses para a defesa nacional, sem esquecer que podemos não estar apenas
perante uma simples de fragmentação da Espanha, mas perante uma divisão num
verdadeiro Estado federalista, ao qual o território português (e a sua
população) poderia proporcionar-lhe exactamente o que lhe falta para se guindar
ao convívio das grandes potências europeias.
Como disse Winston
Churchill, «É sempre prudente olhar em frente, mas é difícil olhar para
mais longe do que pode ver-se.»
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