Histórias da nossa terra
«E os ministros de qualquer Estado
sempre foram iguais.
Blá, blá, falam, falam sem chegar a lugar nenhum,
e deixam-te feliz e enganado.»
― C. Pascarella
A Presidente da Câmara Municipal de Palmela, Ana
Teresa Vicente – eleita nas listas do Partido Comunista Português (PCP) e que
cumpre o terceiro e último mandato – reformou-se aos 48 anos, passando a auferir
uma reforma de 1.859,67 euro; enquanto isso, os seus correligionários vociferam
nas ruas e no Parlamento contra as mordomias e reformas douradas.
Ainda não se aproximavam as eleições autárquicas do
final do ano e já sabíamos que o Partido Socialista (PS) e o Partido Social
Democrata (PSD) tencionavam fazer letra morta da “lei da limitação de mandatos”,
aprovada em 2005. Em resultado temos assistido às mais incríveis “estórias”, autênticas
lutas palacianas.
Embora um dos autores da lei, Paulo Rangel, defendesse
que o espírito é o de não permitir
candidaturas a outras autarquias (reconhecendo, no entanto, que a lei
permite duas interpretações), o PSD – “entre a espada e a parede” face à já
anunciada candidatura de Luís Filipe Menezes à Câmara do Porto – viu-se obrigado
a embarcar com o Presidente da Câmara de Gaia na travessia do Douro. Posição
tanto mais contraditória quando já se sabia que o Presidente/candidato Menezes defende
a fusão das cidades do Porto e Gaia. (Menezes só copia as ideias que lhe
interessam: Rangel defende há largos anos a criação de uma grande metrópole a
Norte, resultante da fusão de Gaia, Porto e, até, Matosinhos e Maia). Como se
não bastasse, a escolha do candidato do PSD à Câmara de Gaia tem – ainda sob a
batuta de Meneses – conhecido os mais inéditos e inarráveis episódios: a
“batata podre” foi mesmo arremessada para Lisboa e caiu no colo de Passos
Coelho.
No PS a luta pela direcção do partido deixou o País
em suspense durante uma noite: à hora de fecho dos jornais matutinos do dia
seguinte era segura a candidatura de António Costa à liderança, mas durante a
madrugada deu-se mais um inarrável episódio: afinal a liderança não estava em
causa e o “salteador do trono perdido” quedava-se, para já, como candidato à
Câmara de Lisboa. Temendo uma briga fratricida, ficamos todos, ainda mais,
descansados quando soubemos que afinal tudo ficou “em águas de bacalhau”
durante uns tempos (necessários para a contagem de espingardas) e que Francisco Assis (aquele mesmo que defendeu um
Renault Clio não era carro digno do
líder parlamentar do PS) foi convidado para direcção do PS (Secretariado
Nacional) e, segundo alguma imprensa (desmentida pelo próprio), para encabeçar
a lista do PS nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, em 2014. (Esta
última é uma excelente noticia para os concorrentes políticos do PS pois, desde
os tempos de Presidente da Câmara de Amarante, já lá vão uma dezena de anos,
não se conhece uma eleição, autárquica ou nacional, que o Francisco Assis tenha
vencido).
No Partido Popular (CDS-PP) a gestão da coligação
governamental não tem, segundo a imprensa, sido fácil: recentemente, a nomeação
de Franquelim Alves para Secretário de Estado deixou particularmente embaraçado
o centrista Nuno Melo, que presidiu à comissão parlamentar de inquérito ao BPN.
Mas as eleições autárquicas trouxeram novos problemas: a imperatividade de
apoiar a candidatura do social-democrata Fernando Seara à presidência da Câmara
de Lisboa deitou tudo a perder na posição – até então intransigente – quanto à
“lei das incompatibilidades”: alguns centristas chamavam “chico-espertos” aos
autarcas (como Menezes e Seara) que, atingido o limite de mandatos, se
candidatam à presidência doutra Câmara Municipal. Por clarificar fica, no
entanto, a difícil posição do CDS-PP na candidatura à Câmara do Porto: apoiar
Menezes está fora de tempo e apoiar a candidatura de Rui Moreira pode atirar a
presidência do executivo portuense para colo do candidato socialista, Manuel
Pizarro.
No Bloco de Esquerda, o autoexcluído ex-líder,
Francisco Louça, parece querer ressuscitar e “dar uma mãozinha” aos actuais
líderes: fundação duma nova corrente ("Socialismo"). Naturalmente que
todos nos interrogamos se do documento constam propostas concretas e exequíveis
ou se é “mais do mesmo”: crítica, demagogia e irresponsabilidade.
Os casos relatados são episódios públicos da política
portuguesa, retirados da imprensa: são o lado “não oculto” dos partidos
políticos. Cabe aos portugueses, antes de mais, definir se é esta classe
política que vai decidir onde é que o Estado irá poupar os quatro mil milhões
de euros (4.000.000.000 euros).
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