segunda-feira, 8 de outubro de 2012



Esta ocidental praia, – lusitana?

«A estratégia como a aventura não existem sem estrategos nem aventureiros. Mas, como ninguém consegue permanecer toda a vida a cavalgar o sonho da aventura, nem a acertar, sem nunca errar, na lógica aleatória de ver as coisas da estratégia, há que admitir, de uma vez por todas, que o repouso do aventureiro ou a mudança de estratego constituem um bem em si mesmo.» ― Manuel Pedroso Marques (Jornal de Negócios, 13-7-2005)

Parece-me hoje ainda mais adequado iniciar este texto pelo mesmo título do que escrevi há cerca de um ano: “De Espanha nem bom vento …”.
Por estes dias Espanha fervilha não só pelas manifestações contra a política e o Orçamento de Estado do Governo de Mariano Rajoy, mas também porque a Catalunha foi palco no seu dia nacional (11 de Setembro) de uma gigantesca manifestação independentista, acompanhada de sinais políticos onde se reclama a independência. Ainda ontem, no decurso do clássico do futebolístico Barcelona–Real Madrid, os adeptos catalães gritaram sincopadamente «in-inde-independència» e exibiram centenas de bandeiras independentistas, as “estelades”.
A imprensa espanhola dá mesmo conta que o Governo espanhol pediu à Comissão Europeia que tenha uma só voz perante a deriva independentista da Catalunha e, em concreto, que interprete os Tratados quanto à possibilidade de um território (espanhol) que se declare unilateralmente independente poder integrar a União Europeia.
Quer pela via da declaração unilateral da independência da Catalunha, ainda que através de um referendo, quer pela via negocial de instauração de um Estado federalista no actual território espanhol, o risco de uma fractura do Reino de Espanha é consideravelmente alto.
Por razões históricas e geoestratégicas bem conhecidas, as relações com Espanha, quer políticas, quer económicas, têm um peso, como com nenhum outro país, nos destinos de Portugal.
Daí que estes sinais devam ser atentamente lidos pelos portugueses, nomeadamente na definição da estratégia de defesa nacional nos vários cenários de configuração da geopolítica peninsular.
O que mais convém aos interesses nacionais em caso de alteração do mapa geopolítico da península?
Como escreveu Paulo Rangel no jornal “Público” da passada terça-feira, «Portugal tem evidentemente de formular uma posição e uma estratégia de resposta, alicerçadas em fundamentos de legitimidade e no apuramento do que seja o interesse e a conveniência nacionais. Além disso, tem de traçar um roteiro para sustentar a sua posição, enquanto vizinho privilegiado e potencialmente afectado, nos fóruns europeus.»
No caso de desintegração do Reino de Espanha, o futuro político da Península Ibérica pode passar por diversas vicissitudes para as quais Portugal tem de definir, antecipada e estrategicamente, quais os seus interesses para a defesa nacional, sem esquecer que podemos não estar apenas perante uma simples de fragmentação da Espanha, mas perante uma divisão num verdadeiro Estado federalista, ao qual o território português (e a sua população) poderia proporcionar-lhe exactamente o que lhe falta para se guindar ao convívio das grandes potências europeias.
Como disse Winston Churchill, «É sempre prudente olhar em frente, mas é difícil olhar para mais longe do que pode ver-se.»

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