«Nisto de
manifestações populares, o mais difícil é interpretá-las. (…) Toda a
manifestação é um corro-a-salvar-te de quem não pensa contribuir para a
salvação senão com palmas e vivas. É este o ensinamento que toda a criatura
lúcida tira das manifestações populares.»
― Fernando Pessoa
Parece que a crise do euro passou de uma fase aguda para
uma fase crónica: no ano passado cada desenvolvimento político ou económico era
motivo para reacções dos mercados financeiros, nomeadamente das principais
bolsas de valores mundiais; este ano os mercados parecem imunes aos avanços e
retrocessos das negociações do novo pacote de ajuda à Grécia, acompanhadas de
sucessivas greves e motins nas ruas de Atenas. Não obstante, os mercados teimam
em manter-se indiferentes.
Noutros partes da zona do euro (leia-se países
mediterrânicos do Sul) há sinais de esperança, especialmente na concretização
de reformas estruturais que permitam que as respectivas economias convivam com
os rigores da partilha de uma moeda única com a Alemanha: a Irlanda recuperou
parte da competitividade, o governo
espanhol de Rajoy conquistou um amplo mandato para encetar as prometidas
reformas, o “indigitado” novo primeiro-ministro italiano, Mario Monti,
propõe-se concretizar reformas da segurança social e das leis laborais,
enquanto em Portugal o governo assegura estar a cumprir escrupulosamente o
acordo de reformas assinado com os seus financiadores.
Apesar destas reformas, a fragilidade das economias da zona do euro ameaça minar esses esforços:
vamos assistir a uma acentuada queda do PIB na Grécia, Itália, Espanha e
Portugal, e a economia da zona do euro como um todo corre o risco de se
contrair. A crónica falta de crescimento ameaça, principalmente pelas
consequências ao nível do desemprego, a estabilidade e coesão social.
As
reformas estruturais podem melhorar as perspectivas de crescimento a longo
prazo, mas no curto prazo são susceptíveis de conduzir a condições socialmente
insustentáveis.
O “sentimento” dos mercados em relação à Europa parece
ter melhorado, mas o caminho da recuperação é longo e escuro.
A
questão é se queremos percorrê-lo.
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