domingo, 17 de fevereiro de 2013

Portugueses: o voto como um jogo.

«O que se está passando em Portugal, o desalento que está pesando horrivelmente sobre a vida portuguesa, não é o sinal infalível de que se aproxima a nossa hora extrema. Não, isto não é o Crepúsculo dum Povo.»
Manuel Laranjeira, “O Pessimismo Nacional”


A capacidade crítica (ou mentalidade, como lhe chamou Fernando Pessoa) dos portugueses divide-se em três camadas – qual a pele duma cebola –, nem sempre ligadas à tradicional estratificação social.
Na primeira camada, ou classe, estão aqueles sem qualquer capacidade crítica (o que modernamente é, por vezes, designado de anafalbetismo funcional): mesmo sabendo ler e escrever, limitam-se a acreditar (ou não) no que lhe dizem, incapazes de formular um juízo crítico; as escolhas que fazem são, necessariamente, por instinto – muitas das vezes baseadas apenas na crença. Na camada seguinte, a “classe média” mental, incluem-se aqueles sendo já capazes de criticar, de refletir, de escolher entre duas ideias, são incapazes de burilar qualquer nova ideia, de contrapor uma ideia própria. Por contrataste com as anteriores, a terceira camada – uma espécie de elite – caracteriza-se por indivíduos são capazes de arguir, com argumentos próprios, uma ideia, contrapondo-lhe pontos de vista ou pensamentos próprios.  
Desenganem-se, porém, aqueles que pensam que estas três camadas da capacidade crítica têm a sua matriz nas classes sociais: quantos não conhecemos que apesar dos estudos superiores se incluem naquela primeira camada? A falta de capacidade crítica é transversal às classes sociais e não se confunde necessariamente com elas.  
Segundo as estimativas disponíveis, mais 650.000 portugueses com mais de 15 anos de idade não sabe ler nem escrever: são analfabetos. Temos, ainda, um elevado grau de analfabetismo funcional (iliteracia): estamos na cauda das estatísticas da OCDE e da União Europeia. Trata-se de indivíduos, entre os 16 e os 65 anos, que são incapazes de qualquer reflexão sobre um texto, um discurso, e, na maior parte das vezes, de usar a leitura e a escrita em atividades quotidianas. Em 2003 Portugal teria uma taxa de cerca de 48% de analfabetos funcionais: «pessoas que não percebem o que estão a ler, ou têm dificuldade em entender parte da informação».
Como podemos, livre e conscientemente, fazer as nossas escolhas políticas, principalmente eleger os nossos políticos? A propaganda política é dirigida pelo marketing e não pelo pensamento e estratégia políticos; as escolas não ensinam a pensar, limitam-se a escortinar aqueles com capacidade para mostrar conhecimento.
Na lenta agonia do País nada mais resta aos portugueses do que apelar ao centenário espírito messiânico, olhar para o boletim de voto com o afinco de quem escolhe os números do euromilhões: será que é desta que acerto?          

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